segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ser Brasileiro...


Somos um povo sui generis em vários aspectos. Alguns ditados populares têm lá a sua razão de ser. Aqui há "leis que pegam" e "leis que não pegam", depende de a quem se aplica. A rigidez da letra fria da lei esbarra no "jeitinho brasileiro”, no “favor”, no quebra-galho.

Sérgio Buarque de Hollanda aponta algumas características de nossa formação social no clássico "Raízes do Brasil". Somos um povo cordial e intimista. Em que outra nação conhecem-se as pessoas pelo apelido diminutivo, inclusive após o honorífico, como por exemplo: "Seu Luizinho", "Dona Candinha"...
Até alguns santos merecem tratamento informal, como Santa Terezinha e o Menino Jesus por exemplo.

O transplante de uma sociedade ibérica para a América Latina trouxe algumas peculiaridades e singularidades. Após mais de 600 anos de dominação islâmica, o machismo impera ainda hoje nas sociedades de origem ibérica.

A necessidade da implantação da mão-de-obra escrava esculhambou com o valor do trabalho braçal. A nobreza decadente ou a emergente burguesia lusitana não queria sujar as mãos com o rude trabalho e esmerou-se nas atividades do espírito ou mesmo no dolce far niente.
Numa comparação com os povos do norte – notadamente canadenses e estadunidenses – a nós é apodada a alcunha de "semeadores", enquanto que aqueles povos são os "ladrilhadores". Semeamos a terra, semeamos cidades, mas nosso cuidado com o esmero dos detalhes do acabamento e manutenção fica a léguas de distância... A nosso favor o fato de a sementeira produzir fartos frutos, proporcionando trabalho por muito tempo junto à lavoura. Quanto ao ladrilhador, após concluído o trabalho de construção, o dever é partir para o próximo.

O brasileiro é cordial e amigo, a ponto de empresários europeus, japoneses e norte-americanos ficarem estupefatos com o fato de precisarem antes de fazer negócio, firmar laços de camaradagem, tornarem-se amigos do empresário brasileiro como conditio sine qua non, para a realização no negócio. É que o brasileiro não consegue separar as dimensões do público e do privado. O empresário é o cidadão e a empresa e ser amigo da empresa apressa as negociações. Tal não se dá no Primeiro Mundo. A dimensão da amizade, da camaradagem, enfim, é completamente distinta daquela do mundo dos negócios. Por lá é correto afirmar, diferentemente de nossa prática: “Amigos, amigos, negócios à parte...” Não raro ouvimos histórias de pessoas que processam umas às outras e, contudo, mantém excelentes e lucrativos negócios. Nos países do Norte não há a necessidade da amizada para a formalização de contratos profissionais lucrativos.

Afora isso há as diferenças regionais. No Rio de Janeiro, por exemplo, a praia simplifica a intimidade entre as pessoas (é complicado ser formal em trajes sumários, convenhamos!) e convida permanentemente a não esquecer a dimensão lúdica.
Em São Paulo, ao contrário, a distância do mar e o burburinho da cidade convida à realização de negócios até mesmo em jantares elegantes, com pessoas adequadamente trajadas e coisas que tais.
De todo o modo o estudo das características do brasileiro fascina tanto que nem mesmo se sabe se conviria alterar-lhe as peculiaridades.
Somos assim...intimistas, respeitosos da lei desde que se saiba com quem é que está falando, espalhafatosos em nossas relações com as pessoas, falta-nos discrição e mesmo o senso de moralidade ridícula que chega à beira de levar ao impedimento um presidente por uma pequena infidelidade conjugal nos falta, pelo contrário.
Em terra brasilis, Bill Clinton receberia aplausos e elogios, isso sim! Não pela política econômica que ele capitaneou e FHC obedeceu caninamente, mas pela habilidade em defender os interesses nacionais de seu pais entre uma escapadela conjugal e outra.
Orgulho-me de ser brasileiro. Aqui são todos amigos e o adágio hindu que informa sermos todos como galhos da mesma árvore ou ondas do mesmo oceano não poderia encontrar eco mais fecundo e propício que em nossas plagas.

(Lázaro Curvêlo Chaves)

Um comentário:

Diego Trambaioli disse...

Gostei muito!
Eu nao sou Brasileiro mas acho que o que vc postou tem muita verdade.
Se nao existesse o Brasileiro precisaria o inventar!!!
Bjs e parabens porque esse blog è cada dia melhor!!